terça-feira, 12 de março de 2013

O Índice da Maldade do dar Michael Stone




Traduzi esta página da wikipedia contendo o índice da maldade completo. Por algum motivo, em nenhum dos episódios do programa “Índice da Maldade” se explica a tabela. Bem, a lista tá aqui, traduzida por mim, para quem quiser tentar entender.
Lembrando que a escala da maldade (“Most Evil”, em inglês) é baseadas em pesquisas sobre assassinatos e casos extremos de violência, não se aplicando, portanto as volantes do Brasil de Pelotas.
Índice da Maldade (como no programa de TV)
01 Matam em defesa própria e não tem tendências psicopatas (pessoas normais);
02 Amantes ciumentos sem tendências psicopatas (também pessoas normais);
03 Cúmplices de assassinos: personalidade distorcida e com problemas anti-sociais;
04 Matou em auto-defesa, mas provocou a vítima de forma extrema;
05 Pessoas desesperadas com traumas que matam parentes abusivos ou outras pessoas para sustentar vícios. Sem tendências psicopatas e mostram remorso genuíno;
06 Pessoas impetuosas que matam em acessos de fúria, sem tendências psicopatas;
07 Narcisistas psicótico, não psicopata, que mata as pessoas próximas por um motivo (seja lá qual for);
08 Pessoas que matam em acessos de fúria;
09 Amantes ciumentos psicopatas;
10 Matadores de pessoas que estavam “em seu caminho” ou testemunhas. Ou seja, egocêntricos, mas não psicopatas;
11 Psicopatas assassinos de pessoas “em seu caminho”;
12 Psicopatas megalomaníacos que mataram quando ameaçados;
13 Pessoas com problemas de personalidades cheios de ódio em crise;
14 Psicopatas egoístas que montam esquemas;
15 Psicopatas a sangue frio ou assassino múltiplo;
16 Psicopatas cometendo vários atos criminosos;
17 Assassinos sexualmente pervertidos, torturadores-matadores (o estupro é o principal motivo, não a tortura);
18 Torturadores-matadores onde o principal motivo é o assassinato;
19 Psicopatas que fazem terrorismo, subjugação de vítimas (tortura), intimidação e estupro (sem assassinato);
20 Torturadores-matadores onde a tortura é o principal motivo, mas em personalidades psicóticas;
21 Psicopatas que torturam até o limite, mas sem nunca terem cometido um assassinato;
22 Psicopatas que torturam, onde a tortura é o principal motivo (e matam).

INFÂNCIA EM VERMELHO



Infância em Vermelho

Meninos do tráfico, meninos de rua, menores abandonados… Tanto já foi escrito, descrito, pensado, estudado. Nada me convence. E assim foi nascendo uma idéia, peça por peça, como num quebra-cabeça de um milhão de peças.
Em pesquisa americana sobre serial killers famosos, são elencados “sintomas” comuns entre eles na infância e adolescência, sendo as principais chamadas de “terrível tríade”: fazer xixi na cama até idade avançada, crueldade com animais e outras crianças, atear fogo –– e seguem outros como dores de cabeça, pesadelos etc. São como profecias se instalando. As perguntas de sempre – nasce mau? Nasce bom? Influência do meio? Trauma? Estudos e mais estudos. E a vida trazendo cada peça, e grudando uma na outra.
Vou me lembrando dos serial killers que entrevistei. Cada um e sua infância, quase que invariavelmente em vermelho. Infâncias em vermelho. André Luiz Cassimiro, furtador de açúcar e comida. Passava fome. Adilson do Espírito Santo, miserável, responsável aos seis anos por cuidar de irmão recém-nascido, que largava para ir soltar pipa. Apanhava todos os dias. Francisco Costa Rocha e os meninos transgressores, homossexualidade adolescente, bebida, carros furtados, solidão, abandono. Pedrinho e Botinha, sua gangue, brincadeira de criança grande, arma na cintura, chefe de bando. Chagas e sua solidão, atirando pedras em gatos, abusado na mata “ao lado” pelo amigo da avó, surrado na oitava desobediência com a vara que ele próprio escolhia, de jatobá. José Paz Bezerra e o pai leproso, banhado e cuidado por ele, criança, sem direito a sentir repulsa. Marcelo Costa de Andrade nas ruas da Cinelândia, se prostituindo pelo pão de cada dia, rejeitado por pai e mãe. Capetinha, fugido aos seis anos, na rua, responsável por seu sustento e abrigo, a mesma idade que Isabela, imagine. Marcos Souel e sua mamadeira de pinga e groselha, alimentado pela mãe bruxa, com seus guizos pendurados na saia rodada e sapos enterrados pelo quintal. “Michele” crescendo em corpo de Sergio, sua feminilidade presa em corpo masculino, na rua traste e no manicômio rainha. Nelson e sua leve deficiência mental, cozinhando na casa errada, preso e internado sem nem entender porque, esquecido ali por mais de 50 anos. Joel, o maluco beleza, nem se lembra da infância, preso nos seus delírios de super-homem e Hitler. Mais um André, agora Barboza, e suas duas mães, rei dos telhados, escondendo-se de seu vizinho pedófilo embaixo da cama, machucado despercebido pela mãe deficiente visual. Batoré, viu o pai matar a mãe e morrer, homicida famoso antes mesmo de crescer.
Na minha observação, para contar sua história, a pessoa finalmente tem de se organizar, ordenar seus pensamentos. Assim, ela entende e eu entendo. Foi assim com Francisco, que gargalhando declarou que eu fui a única que o compreendi, Leonardo da Vinci que era. Foi assim com André Barboza, que chorou ao entender quem era, entre vítima e algoz. Foi assim com Adilson, que chorou pela mãe que o espancava. Foi assim com Marcelo, que nunca foi criança. Foi assim com Capetinha, assassinado recentemente da mesma forma violenta que viveu. Foi assim com Marcos Souel, que sonha agora em ter uma dentadura. Foi assim com Pedro, que me agradeceu por ouvir e registrar sua história e me pediu: coloque aí Pedrinho Matador, ou ninguém saberá quem sou. A identidade criminosa positiva, os ganhos e os “ganhos” do crime, a onipotência infinita do adolescente, para quem a morte está há anos luz de distância e o desastre jamais é iminente.
A pergunta que eu levo a eles é a trinca filosófica jamais respondida: quem é você, de onde vem, para onde vai. Simples assim.

Ilana Casoy é especialista em Criminologia pelo IBCCRIM, com Treinamento em Investigação e Perícia Forense em casos de homicídio pelo U.S. Police Instructor Teams. Atualmente, é membro do NADIR – Núcleo de Antropologia do Direito da Universidade de São Paulo. Autora dos livros: Serial Killer – Louco ou Cruel?, Serial killers – Made in Brasil, O Quinto Mandamento – Caso de Polícia e A Prova é a Testemunha.

 

domingo, 10 de março de 2013

O CRIME E A MENSAGEM



Por Ilana Casoy
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Na esteira do assassinato em massa ocorrido em Denver em julho/2012, na estreia do filme ‘Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge’, temos visto outros, como aquele contra o Templo Sikh em Wisconsin, na Universidade do Texas, e na cafeteria de uma escola em Baltimore, todos em agosto de 2012. As vítimas desses quatro atentados somam 21 mortos e 67 feridos. Apesar da raridade estatística, o estrago social que provocam é contundente. Os ataques pós-Coringa teriam sido consequência?
Analisando a mente e a ação dos assassinos desse tipo, sua primeira necessidade é divulgar uma mensagem, seja ela de vingança, ideologia político-religiosa ou ódio, que racionalmente explique sua ação. Anders Behring Breivik, Atirador da Noruega, deixou um manifesto de 1.500 páginas, onde esclarece todas as suas convicções. Wellington Menezes de Oliveira, Matador do Realengo, deixou um vídeo divulgado como “exclusivo” em rede nacional brasileira, no qual se explicava em detalhes, espelhando-se provavelmente no vídeo deixado pelo também assassino em massa Cho Seng-hui, que matou 32 vítimas e feriu 21 em Virginia Tech. Esse último produziu o chamado ‘Manifesto Multimídia’, contendo material divulgado pela rede de TV americana NBC.
Outro objetivo desses assassinos é a de tornar-se uma lenda, uma celebridade reconhecida pela eternidade afora, com legiões de seguidores e admiradores. E conseguiram. James Holmes, o ‘Coringa’, foi televisionado todos os dias após sua prisão, até que a justiça americana interrompesse a roda-viva midiática. Tem até fã-clube de meninas que tatuam na pele o seu nome. Os vídeos de Wellington e Seng-hui ainda estão disponíveis na internet, bem como o manifesto de Breivik. Vivemos tempos em que a mídia transforma esses assassinos em verdadeiras celebridades, alimentando um culto macabro a eles. São reconhecidos no mundo inteiro.
As mentes perturbadas que já tem essa fantasia estão à espreita, prontas para seguir esse exemplo de anti-herói que tem dado certo, ainda que doentiamente.

POR QUE A DESGRAÇA ALHEIA FAZ SUCESSO?



Por Ilana Casoy

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No senso popular, ser criminoso é uma escolha pessoal e são irrelevantes as questões de ordem social, psicológica ou biológica como causas muitas vezes inseparáveis da grave criminalidade. Acredita-se na eficiência de convencer as pessoas com penas cada vez mais altas e que o castigo é grande e o crime não compensa, e com este método os índices de criminalidade poderiam finalmente chegar à zero. Ainda hoje, no Brasil, emendas a Constituição são propostas para que, nos casos de crime hediondo e sequestro, a pena possa ser de prisão perpétua. O ganho político deste tipo de discurso, de acordo com os conceitos vigentes de educação, é indiscutível. Há que se modificar o conceito, o valor, antes que se possa pensar num direito penal moderno e humano.
Ainda assim, quando tivermos conseguido educar uma cultura ocidental inteira, nos restará ainda lutar contra o sentimento de schadenfreude, definido com palavra alemã que tem sua origem etimológica derivada de schaden – adversidade, dano, e freude – alegria. Trata-se do prazer que o ser humano sente com a desgraça alheia. A própria Bíblia parece reconhecer esta “alegria”, quando a estabelece como não devemos nos alegrar com o fracasso do inimigo, no Livro dos Provérbios 24h17min – 18:
Podemos assistir o schadenfreude atingindo a massa ao nos deparamos com os altos índices de ibope alcançados quando os telejornais mostram prisões, e os suspeitos são filmados sendo algemados e expostos ao público, quando aglomerados de pessoas vão a locais de crime “assistir” ao vivo os acontecimentos, quando investigados são execrados pela opinião pública antes mesmo de serem julgados. É o que o povo, em sua simples sabedoria e linguagem, chama de “alma lavada”.
A audiência alcançada pelos últimos capítulos da novela das nove reforça esse conceito. Ali, todos têm antecedentes criminais dos mais variados: tentativa de homicídio, cárcere privado, lesão corporal, abandono de incapaz, furto, estelionato, exploração de trabalho infantil, extorsão, roubo, rufianismo e homicídio. Resta saber se seríamos atingidos pelo schadenfreude ao ver os “bons” também punidos, depois de conhecer profundamente os motivos de cada um, ou se a sensação de “alma lavada” também seria sentida em relação à impunidade das personagens com “bons motivos”, absolvidas por conhecermos a história inteira de cada um. Essa chance os inocentes da vida real não alcançam!

Ilana Casoy é especialista em Criminologia pelo IBCCRIM, com Treinamento em Investigação e Perícia Forense em casos de homicídio pelo U.S. Police Instructor Teams. Atualmente, é membro do NADIR – Núcleo de Antropologia do Direito da Universidade de São Paulo. Autora dos livros: Serial Killer – Louco ou Cruel Serial killers – Made in Brasil, O Quinto Mandamento – Caso de Polícia e A Prova é a Testemunha.
Fonte>http://id.discoverybrasil.uol.com.br/ilana-casoy-saiba-mais-sobre-schadenfreude/